top of page
  • fazendansassuncao

A Cidade do Café e de Tantas Coisas Mais

Não me recordo da primeira vez que ouvi “Cidade do Café”, este formoso e memorável apelido dado à Cabo Verde. Recordo-me, apesar disso, das aulas de Língua Portuguesa na Escola Estadual Professor Pedro Saturnino de Magalhães, quando fui apresentado às inúmeras figuras de linguagem do nosso idioma e que esta alcunha de “Cidade do Café” tratava-se de uma ‘Antonomásia’. Um termo estranho para definir quando utilizamos outra palavra ou expressão para substituir a original. Mas isso é característico nosso, de tratarmos com apelidos determinados lugares, coisas e pessoas. A escola já mencionada é comumente conhecida apenas por “Saturnino” ou, ainda mais intimista, por “Colégio”. Também é corriqueiro do nosso interior sul mineiro quando queremos mencionar alguém e o seu sobrenome é substituído por “Filho de Fulano” ou “De tal estabelecimento”; quando não fazemos uso dos dois. Peço licença a um grande amigo para usá-lo como exemplo: Se estiver procurando pelo advogado Dr. Felipe Zaghi e perguntar para algum cabo-verdense, talvez ele até o conheça; mas se perguntar por “Felipe, filho do Sérgio do Laboratório” terá muito mais sucesso.


Estas atribuições de apelidos e referências demonstram uma das muitas características de cidades interioranas, pequenas, singelas, costumeiras e acolhedoras. Via de regra, não são feitas para causar algum mal-estar. Porém, muito cuidado deve-se ter com isto, pois podemos perder nossas identidades próprias ou então ficar enviesados em um único ponto de vista. Afinal, não há erro em sermos reconhecidos por nossos familiares ou por aquilo que fazemos de melhor, haja visto o Café da nossa cidade, mas é preciso que a mensagem seja a de que somos mais do que isto.



Permita-me, agora, caro leitor, uma breve abordagem histórica: Cabo Verde surge no mapa em 1762, época em que o país (e sobretudo nosso Estado de Minas Gerais) ainda vivia no chamado Ciclo do Ouro. E surge justamente nesse processo de desbravar do interior do país, ainda intocado (não sob o ponto de vista dos povos nativos, é claro), quando Veríssimo João de Carvalho, ao buscar por um caminho entre dois povoados existentes na região à época (Ouro Fino e Jacuí), depara-se com a possibilidade de ter encontrado ouro em nosso solo, na “Freguesia de Nossa Senhora da Assunção do Cabo Verde”. Muita História e muitas estórias aconteceram por aqui nos anos seguintes, inclusive a da origem de nome “Cabo Verde”, até que, mais de cem anos depois, em 30 de Outubro de 1866, este povoado se ‘emancipasse’, fosse elevado ao título de Cidade. E, neste momento histórico, é possível dizer que nossa cidade já contava com algumas dezenas de lavouras de café.

Este nosso conhecido grão vinha ganhando um destaque econômico cada vez maior no país. Alguns fatores físicos (como altitude e o solo) somaram-se aos fatores sociais: Um povo empreendedor. Cada vez mais, nossas serras foram ganhando tons, formas e cheiros de cafezais. Nosso café tornou-se referência! Adotamos o Café e o Café nos abraçou. E assim surgiu a Cidade do Café.


Não sei dizer quando nem quem foi o primeiro a usar tal antonomásia. E, como já disse, não me recordo da primeira vez que a ouvi. Mas sei que desde pequenos, nós cabo-verdenses reconhecemos este apelido carinhoso. Talvez este tenha sido nosso grande embaraço: Um povo, com tamanho potencial empreendedor, tenha permitido que esta chama fosse se apagando, talvez pela comodidade; talvez pelas dificuldades que foram aparecendo.

Quero, então, fazer um convite. Um convite para que olhemos para Cabo Verde com novos olhares.


Pois que sejamos a Cidade do Café e não apenas como um fato histórico, mas como uma marca pujante e viva: Dos pequenos produtores rurais, que se desdobram para ter boas colheitas; dos nossos cafés especiais ganhando o devido reconhecimento; das grandes lavouras, que enfeitam nosso hábitat e geram emprego e renda.


E sejamos ainda mais: Uma cidade com grande potencial turístico ecológico (cachoeiras e mirantes), histórico-cultural (casarões antigos, artesanato, festas tradicionais) e rural (Ciclo do Café); uma cidade quem vem se desabrochando para múltiplas atividades econômicas, como a área têxtil, agroindústria e mineração; uma cidade que consiga receber bem nossos visitantes (hotéis, pousadas, restaurantes, cafeterias, centros de eventos); Uma cidade que desenvolva sempre seus aspectos sociais, através do esporte, da cultura e da educação.


E, parafraseando Adoniran Barbosa, devemos entender este potencial empreendedor nosso como uma brasa que, se assoprar, pode acender de novo. Assim, faremos jus ao nosso hino, retomando os adjetivos Rica, Hospitaleira e Sã a nossa querida “Terra do Assunção”.


Viva Cabo Verde! Viva nossa História! Viva nosso Futuro!


Texto: Lucas Toledo

Foto: Leandro Lobo


18 visualizações0 comentário
bottom of page